Há pouco mais de vinte anos, era frequente perdermo-nos no meio da multidão que enchia a Rua Direita de vida, procurando um comércio de qualidade e diversificado. No entanto, a tradição de passear pelas ruas da Baixa foi abalada pelo conforto e acessibilidade das grandes superfícies.
Actualmente, o centro de Cascais perdeu o dinamismo e o brilho que outrora atraía famílias, amigos e apaixonados. Pouco iluminada, cheia de buracos, com edifícios por restaurar e lojas a fechar, a Baixa tornou-se pouco atractiva e sem vida. A perda de qualidade de certos bens e serviços, com o surgimento
de lojas onde os preços são mais baixos mas o produto mais fraco agravou ainda mais esta situação.
Por outro lado, hoje quase ninguém prescinde do conforto das grandes superfícies. Não afectadas pelas condições climatéricas, com estacionamentos gratuitos e lojas sempre abertas, estas ganharam terreno face ao antigo comércio de rua.
A dificuldade em inverter esta tendência agrava-se devido ao ciclo vicioso que se origina - os clientes procuram as grandes superfícies e as lojas de rua fecham; estas lojas fecham, logo há mais clientes a procurar as grandes superfícies.
Embora existam órgãos que tentam fortalecer este tipo de comércio e ultrapassar os seus obstáculos (especificamente a Associação Empresarial do Concelho de Cascais ou a Associação para a Promoção do Comércio de Cascais), a crise económica em que vivemos, dificulta adoptar quaisquer medidas de revitalização.
A Câmara tem, por sua vez, projectos pendentes neste sentido. No entanto, dos poucos que são aprovados, a maioria são mal divulgados. Um exemplo actual disso é o desconhecimento do público sobre o estacionamento gratuito ao fim-de-semana e feriados entre 29 de Novembro e 31 de Dezembro de 2010, na Baixa de Cascais.
Contudo, os comerciantes não podem esperar sentados. O Estado pode, de facto, ajudar a combater esta tendência (nomeadamente não cortando as iluminações de Natal, numa das ruas mais emblemáticas do país, e talvez a mais simbólica de Cascais), mas as acções devem partir dos interessados.
Uma boa aposta para o comércio de rua está no profissionalismo, ou seja, os seus comerciantes têm de ser bons conhecedores do produto que vendem, no sentido de zelar pelo interesse dos clientes.
Por outro lado, sendo Cascais uma vila turística, pode oferecer um comércio integrado num ambiente familiar e pitoresco.
Ainda assim, a solução pode estar numa mudança de mentalidades que vise os passeios ao ar livre ou, até mesmo, um regresso às lojas familiares que sirvam de acordo com o que precisamos.
Tendo Cascais o potencial para mudar esta situação, é triste que a Baixa perca o seu significado. De facto, existem muitos entraves financeiros e sociais para dinamizar este espaço. Contudo, é na inovação e no profissionalismo que se poderá encontrar a resposta.
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