A pergunta parece descabida mas não é totalmente desprovida de sentido tendo em conta a falta de reflexão sobre estas questões por parte da maioria dos portugueses. Relegada para o plano especializado, a Arquitectura acaba por não ser propósito para discussões e reflexões no dia-a-dia, para além do “aquele prédio é feio” ou “já viste aquele mamarracho?”.
Torna-se importante voltar, então, a promover a discussão pública destes assuntos que dizem, de facto, respeito a todos. A Arquitectura é a cidade, é a rua, é a praça, é o jardim, é o pátio, é o edifício, é o quarto. Arquitectura é todo o ambiente construído que nos envolve e que potencia, ou não, as nossas acções e a nossa vida. E não é por um edifício ser “muito bonito” que merece discussão.
A Arquitectura revela-se na inteligência da resposta a um problema específico. Tanto é mais global quanto mais integrar questões base tão múltiplas como o programa, o lugar, a economia, a sociologia, a tecnologia, a sustentabilidade, o urbanismo, a psicologia, a estética…
Quer se queira quer não, a Arquitectura está presente na vida de todos. Ao contrário da música, em que se escolhe ouvir aquilo que, porventura, se gosta mais, na cidade tudo o que está construído torna-se inevitavelmente presente. Há, e continuarão a haver, projectos concebidos de forma superficial e leviana, alguns criados por arquitectos, muitos por “não-arquitectos”, numa banalidade de construção que se espalha por todos os cantos da cidade e por todo o espaço envolvente à mesma, sem que a mínima operação urbanística tenha lugar. Foram várias décadas a vender o território aos retalhos, fomentando apenas o enriquecimento dos figurantes deste negócio e descaracterizando por completo o território, que é de todos nós.
O construído é de facto necessário para a nossa apropriação ao planeta terra. Mas é fundamental entender a forma como essa construção surge, a sua pertinência e a sua sustentação numa concepção global e íntegra. É também importante saber distinguir a Arquitectura da mera construção.
“Utilizamos a pedra, a madeira, o cimento; com eles fazemos casas, palácios; é a construção. O engenho trabalha. Mas, de repente, interessa-me fortemente, faz-me bem, sou feliz e digo: é belo. Eis a Arquitectura. A arte está aqui.” Le Corbusier
Já é hora de questionar aquilo que se vê, aquilo que se sente, aquilo que se vive.
Henrique Frazão
Sem comentários:
Enviar um comentário